Durante anos, percorri os passeios da Rua do Arsenal em Lisboa, de mão dada com a minha mãe, a caminho do trabalho dela e depois no regresso a casa. 

O cheiro era tão intenso e entranhava-se de tal maneira, que desde que me lembro que chamo àquela rua, a Rua do Bacalhau. 

Um artigo do DN de Dezembro de 2019 refere que das 8 casas que ali existiam, sobravam duas – penso que hoje ainda assim seja: o Rei do Bacalhau e a Pérola do Arsenal.

Não tenho memória de qual das casas era a favorita da minha mãe – se alguma destas se outra que já tenha fechado – mas tenho memória de os ver a cortar o bacalhau em postas, a embrulhá-las em papel pardo, e a prender tudo muito bem com um cordel.

No regresso a casa, enchia-se o alguidar com água fria da torneira e começava o processo de demolha.

Hoje em dia, já são muitas as pessoas que optam por comprar bacalhau demolhado congelado, por ser mais prático, mesmo sendo mais caro. No entanto, na época do Natal, tendo de comprar mais para a noite de Consoada, fica muito mais em conta comprá-lo seco e demolhá-lo, seja para cozer logo no dia, seja para congelar e cozer depois.

Na falta de um ribeiro de água fresca à porta de casa, que é a melhor forma de fazer a demolha, temos água e alguidares e um frigorífico (ou pedras de gelo).