Encontrei esta receita por acaso ao folhear as velhinhas teleculinárias da minha mãe e fiquei logo rendida, mesmo antes de a testar.

Há qualquer coisa nas receitas mais antigas que nos dá uma sensação de segurança e de nostalgia, como se voltássemos a ser crianças, ao tempo em que as mesas se decoravam com rendas e crochets e um bolo simples, mas robusto, era o melhor que nos poderiam dar.

Eu não resisti e fui buscar o meu melhor serviço de chá e os longos naperons de crochet que a minha mãe fez para o meu enxoval, coisas de antigamente, que hoje já ninguém que eu conheça faz enxoval para as filhas.

Este crochet fica perfeito nestas ocasiões em que é preciso algum do charme de antigamente. Parece o chá das avós. Adoro!

A Teleculinária do saudoso Chefe Silva transcreveu a receita tal como lhe chegou às mãos… e é uma leitura deliciosa.

É toda escrita em verso pela D. Maria Christina, irmã do 1º Presidente da República, Manuel de Arriaga.

Maria Christina de Arriaga nasceu em 1835 e viria a falecer em 1915, quatro dias antes de o irmão abandonar o cargo.

Nascida no seio de uma das mais ilustres do Faial, nos Açores, dedicou-se a obras de assistência social.

Em 1901 publicou um volume de poesias – Flores d’alma. O produto da venda foi destinado à fundação de uma cozinha económica, destinada à protecção alimentar de pessoas indigentes.

Não é por isso de estranhar que a veia poética “temperasse” também as suas receitas, além de toda a dedicação e espírito solidário para com os mais pobres.

No original, a receita reza assim:

♦ ♦ ♦

Três chávenas que são d’ almoço,

De muito boa farinha.

Fermento em pó duas pequenas colheres.

Assucar leva uma chicara, de manteiga outra.

Uma de leite e trez ovos

Eis a receita escripta.

 

Depois da manteiga o assucar

Tudo muito bem misturado,

O leite frio e farinha

E gemmas se vão addicionando.

 

As claras bem batidas,

Juntando a tudo se vão,

Mas perto d’ir para o forno,

Só as claras se deitarão.

 

Em lata bem untada de manteiga,

Vae uma hora a cozer,

É um bolo excelente,

Para a sobremesa comer.

♦ ♦ ♦

É uma delícia a leitura do português que se escrevia há mais de 100 anos, não acham?

Neste Bolo do Monte são usadas como medida as chávenas almoçadeiras e o que fiz foi simplesmente “traduzir” tudo isso em pesagens.

Optei por ovos grandes, já que, pelo que me lembro do tempo em que a minha mãe tinha criação de galinhas, os ovos eram bem maiores do que os médios que se vendem hoje nos supermercados. E de vez em quando vinham com duas gemas! Ah o que eu adorava essa espécie de kinder surpresa!

Se optarem por ovos biológicos, melhor, mas se forem pequenos, usem mais um. Ou dois.

Este é um bolo que leva muita farinha na proporção com o açúcar e os ovos. Mas é mesmo assim… e quis manter-me fiel ao original. A massa fica bem mais densa do que as massas de bolo a que estamos habituados.

Finalmente um conselho: deixem este bolo arrefecer totalmente. Tem de estar frio quando se comer para que não vos saiba a farinha.

Depois disso, acreditem, é um bolo mesmo à antiga, com uma massa densa, muito fofa, uma delícia e perfeito para acompanhar um chá bem quente, sobretudo nestes dias mais frios.

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